sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Agência


Aqui não há lugar...
Tenho as mãos trêmulas,
Um sorriso nos lábios,
Uma lágrima no olho, e,
Um coração frio
Apesar dos trinta graus.

Aqui no templo, o sacerdote serve café preto...
Arquitetura circular:
Da xícara, do prédio, da câmara
Onde dorme o corpo de notas
Da divindade do valor das coisas.

Olho sereno para o círculo do tempo
São dez para as cinco.
O meu sorriso mostra ansiedade
Pelo movimento da fuga para a liberdade
Nascida sem forma
Da boca redonda duma garrafa de cerveja.

Tarde de Sol



No meio da tarde paro
vejo raios caindo no chão
levanto os olhos pro céu, um sol
por trás da pequena nuvem.

Neste momento,
quantos olhos olharam prum sol?
Quantos raios caem do céu?

Não sei.

Meus olhos por trás das lentes de contato
tocam, o Sol, este Sol - meu só -
de onde escorrem raios luminosos
por dentro da nuvem fria
e banham de calor esta tarde.

Este céu este Sol
Tarde nuvem
São bem meus,
só eu os vejo.

domingo, 23 de setembro de 2007

Riso sério



Pessoalmente nem qui'saber
Antes de chorar escolhi rir,
Do erro do outro, o acerto do tempo;
Contradição:
como morto enterrado no vento.

Rir não é assim fácil,
é trágico gargalhar.
Este chorar macio
a dor de mergular
[em si]

Chorar não vale
resseca, oprime...
Rir estravasa, transborda,
me deixa imune.

Pessoalmente prefiro esquecer de mim...
Para crescer, baixando ao fundo do poço
Jovem-menino e sair um moço
que é sério de riso e reflete com olhar.

Paraíso S/A



Do outro lado da vida
o paraíso perdido.
Do outro lado da rua
Tod'aquele sentido
de coisa que deve ser,
mas sempre, nunca é.

Est' avenida longa,
minha risada zonza,
Barracos na margem,
A pobreza e a Globo.
Rio disto e me assombro:
Riqueza, mídia e miséria.

Paraíso na terra,
Grana como capim,
Shopping Center Morumbi.
Consumir sua alma...
Não fechamos. Compre aqui:

Biscoito de chocolate,
garrafa de conhaque,
felicidade a granel,
Amores vagabundos.
O paraíso, hoje,
não está mais no céu.

Uma palavra



Uma pedra é palavra
Uma velha é palavra
Uma cela é palavra
Uma vela é palavra.

O concreto é só concreto
duro, rijo sem se dizer,
mas na ment'o sentimento
em palavra vai viver.

A idade'o tempo
a ruga, o cabelo branco
misturam-se nesta massa
de letras desordenadas.

Liberdade aprsionada
na cabeça do vilão
cerciado por palavras
em barras e paredes, a prisão.

Luz diáfana que foge
pela janela do escritor
vela no escuro por mim
um vidro, ferro esta palavra
que brilha.

Ciência Poética



Microscópio da poesia
olha tudo com avidez
faz objeto - melancolia
traz tudo com lucidez.

Olha's coisas bem de perto
'strututa do concreto
é palavra, é o verbo
frase cadenciada...
em 'spaço mitigado.

Sua mão palavra é
palavras no sopé
da montanha-pensamento
Qu'em palavra se firmou.

O poeta da palavra
pega tudo e bate bem
na rima rica, clara,
ritmo: Um, dois va'e vem.

Faz do mundo um soneto
verso, estrofe, alusão.
Vai a Piza, nu' momento
tem o sol em sua mão.

Realidade possível
verso verde a virar.
Poesi'em plena lavra
Do universo...
Mina de palavras.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Sua escolha

Rio triste, dentes brancos.
Contra o peito esta alegria
pela escolha incompleta...
Meu passado é meu guia.

Água negra, margens verdes
Rio à noite desta Lua.
Minha amada está nua
na barranca bem contente.

Rio longe, cheiro forte
os teus olhos de desdém.
Mas na curva tem a morte.
Rio sempre e me convém.

Dístico




Do alto daquela torre
Cai a infância sonolenta.

No fundo deste poço
Morre a velhice mais horrenda.

E

Neste momento em que escrevo
Alguém vive minha vida.