quarta-feira, 31 de outubro de 2007

CPMF





Não.
Não funciona:
A repartição, a repatriação
a expropriação, a federação.


Não funcionam.
Não funcionam como:
os hospitais, os Uruguais,
os postos da receita federal,
os semáforos da Marechal.


Não! Nem adianta reclamar:
do calor, do fedor,
da dor que sentes na cabeça
que explode como os homens-bomba
de Bagdá e Tel-aviv.


Não, não!
Não vai dar:
pra quebrar seu galho,
pra comparar seu alho,
pra dizer bugalho,
pra ir pro Carvalho
tomar uma caçacha, fiada.


Não, nem em sonho:
Deixar de taxar a comida,
o sorriso e a bebida
nem ao menos deixar
que você pare de pagar
a CPMF.

Azul


Céu mosqueado de teus olhos azuis,
sem nuvens, calmo de anis.
Mar calmo, quente dos brazis.
Sal, magnésio, ternura, tarde.
Azul de Yemanjá
rainha das águas mornas dos teus olhos.
A cor do meu coração.
É o melhor azul do mundo:
o de teu céu, de teu dia,
Azul desta poesia.
Azul mulher dos balcãs
Hungria que nunca vi
Tristeza faceira, blues,
Miles Davis.
Tigre celeste profundo
sem garras. Mas morde,
Arranca' atenção, dilacera
Ao volver-se pra mim.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007




No fundo sabia...
que não podia agüentar.
No fundo sabia...
que podia colapsar.
No fundo jazia sem nada fazer.

No fundo, bem no fundo
onde a luz chega pouca.
No fundo do céu da boca
uma palavra que seca,
pois nunca veio ao mundo.

No fundo dos olhos o brilho opaco.
No fundo da alma lhe falta um pedaço.
No fundo do poço é mais leve o ar.

Tão fundo em si que não pode dizer,
tão fundo na vida, não há o que fazer,
tão fundo no escuro, sufoca o sono.

Assim lá no fundo,
tão fundo em nada
a vida se apaga sem ter solução.

Gotas



O vento sul sopra:
Nuvens crescem na mente
do poeta ... raios, frio, luz...

Caem as letras fracas
A:S::G:O:T:A:S::M:O:L:H:A:M:,:L:I:M:P:A:M.
Luz raio vento brainstorm.

Chove
Enche a mente...
Faz-se lago: a estrofe.
Chove!
Faz-se grande o aguaceiro:
Poema!
Faz-se incontida a emoção,
estoura a represa:
Rio!

Agora a tormenta leva
longe, pro fundo do mar
em dicionário
o delírio... nuvem vai:
Sol!

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Canção Poerrista


Poerrismo é emoção

séria de coração.

Sobe o elevador,

criança corre n'andador

um poeta solta letra

num poema sem canção.


Poendo idéias nos ares

cavando pelos mares

Errando na ilusão.

Luz que brilha lá em baixo

guia a escrita meu penacho

Uma pena de pavão.


-ismo social,

religioso, pessoal.

Pessoa e Drummond

E Camões e Camus

Erraram em versos

acertaram na rima

Num assunto que atina

o flanco do coração.


Poerrismo pra eu

Poerrismo para tu

Poerrismo é comportado

não vai rimar com "çul".

Poerrismo en-cerra a Paz.

Sob




Sob pressão meu continente

foge do mundo e voa pelo ar.

Sob tensão minha pátria

o futuro não quer vislumbrar.

Sub-solo minhas idéias

cavucam, contorcem, saem pelo olhar.

Sub-seqüente ao processo

eles são eleitos pelo muito falar.

Sub-marino adentra o território

do inimigo punir-e-vigiar.

Sub-humano uma esmola

pra quem não pode trabalhar.

Sub-tamente, Cortázar

vem e joga amarelinha.

E sobre tudo isso

um caleidoscópio a girar.


domingo, 7 de outubro de 2007

Via em mim.

O Tempo eleva a Verdade dentre a
Disputa e a Inveja Nicolas Poussin, 1640-2




Estou sozinho
Sinto-me só meu.
Estou num ninho
de arame farpado
Sinto-me ateu.
Nada me consola...
Onde estão todos?
Sigo na marola
Desta fumaça em rolos.


Sou um péssimo poeta
ninguém me lê.
Sou uma péssima pessoa
ninguém me vê.


Mas lá no alto...
um olho, um ouvido, uma voz.
A experiência só minha
É D's que me chama.


Stop! Kaballah e Sufismo
Não estão em meu íntimo
Na verdade não aprendi
a perceber a Vida perto de mim.