sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Coletivo


Apressadas pessoas se imprensam,
umas contra as outras, nesta lata que
dura corre ruas e avenidas.
Suam e lêem,
vêem: carro com ar-condicionado através janela fechada.
Um calor....
A chuva acumula o ar-viciado nesta dura miséria,
esse transporte coletivo.
Coletivo de gente: multidão.
Sacrifício coletivo,
um poeta emotivo
em meio à confusão.

Nem o trem nem o metrô
servem para esta lata esvaziar.
Só a enchente.
R$ 2,30.
Solavancos e sonos, doentes e pedintes.
No ônibus todos os sofrimentos se encontram.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Cercas e Muros.


















Pedras amontoadas dividem.
Pedras desgastadas revivem...
Memórias: "Te Amo" escrita
no cinza-verde da brita,
argamassa, concreto bruto.
Boas cercas fazem bons vizinhos.
Boas mesas, finos vinhos.
Boas prosas fazem: escritor.
Boas obras desfazem pecador.
Mas separa da vida, uma cerca erguida
entre mãos que não se tocam,
entre olhos que não se olham,
entre nós.
Construção de humano engenho
trilha de ódio feita com empenho.
Cenho. Fechado. Tradicional e sagrado:
O que é meu é meu, o que é seu é seu.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Leito


Quando estiver neste lugar lembra:
Daqui você saiu e para cá vai voltar.
Criança que não caminha longos dias,
noites; nem percebe que lá fica.
Adolescente pessoas atraentes em sonhos...
Doces sonhos de vitórias e glórias futuras.
Adulto antro das paixões concretas,
pesadelos, noites sem dormir.
Idoso, ido o tempo das tormentas.
Vem... pouco descanso e o último suspiro.
Sobre teu peito branco, multicolorido
navega, nau imóvel; mas parece que flutua.
De água, penas ou molas...
Ontem foi madeira, hoje tubo,um dia, tatame.
Na cama a vida se resume, o torpor da preguiça e a energia do vencedor.
Um choro sobre seu peito, nascimento, vida.
Um choro a seu pé - suspiro, último, morte.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Ardil de metal

Ardil de metal, placa, mola.
Morte industrializada,
identificada: Código de barras.
Adesiva: pega tudo eficiente e prática,
Galvanizada: É o fim...
Gaiola: não escapa!


A isca convida
no cheiro do queijo,
a fome. Só alguns metros...
Saciar o animal instinto.

É mais forte que eu...
-Então vou! Correrei o risco,
agirei de improviso.
Um passo, uma mordida...
- Mortal! A armadilha se fecha.....
- Meu pescoço! Não posso respirar....
.................................................................

Como é cruel a vida
que nos dá fome,
queijo, pescoço
e a ratoeira.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Mais poesia em nossas vidas.




Como os leitores podem perceber iniciei uma série de poemas num estilo como diria... naïf sobre coisas... objetos pra ser mais objetivo.
Como uma das propostas deste blog é a experimentação, poesias em forma de prosa ou com temas banais estão aqui com um objetivo: RESGATAR A POESIA DO CORRIQUEIRO, DO DIA-A-DIA. E só.

Proposta estética?
Sim, temos...: "Perceba a poesia em sua vida e viva melhor..."
e como disse alguma vez o saudoso Renato Russo z'l:
"... ora, se você quiser se divertir
escreva suas próprias canções."

Eu faço um remendo em sua mensagem: ESCREVA AS POESIAS QUE VÊS COM TEU CORAÇÃO.

Mais poesia
menos guerra
mais amores
menos feras
mais compreensão
mais tolerância
mais crianças
mais risos
mais luz
mais de você.

Faça-se feliz escreva poesia!

Boaz Ben Av

Essas gotas...


Cai sólida como pedra,
gota rola leve como pluma
vida e morte te acompanham.

Nuven sopra, vento negro,
frio, medo, treme a espinha.
- Raio, trovão.

Bumbururumbumbum!
Bombas sobre a cidade
citiada por cidadãos
neste abrigo sem-teto
neto repete o ancião.

Molha tudo, alaga:
moto, carro, caminhão.
Sinal vermelho, amarelo!
Uma batida um martelo,
prefeito, revolução.

Acampa no campo verde,
alva-alta sobrevoa
foi-se a chuva, cio da terra;
na cidade alagamento.

Agora chora pobrezinho
perdeste teu chãozinho
enxurrada o levou.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Minhoca de metal


Elétrico vem o trem,
trem que vai, trem que vem.
Trem bão, trem doido.
Como bala na minha sala, aéro-trem.

Minhoca de metal
sobre a terra
soterra distâncias
traz perto o além.

Sobe ponte monotrilho
desce à terra é metrô.
Na planilha do engenheiro
comanda computadô.

Trem carrega, gente viva,
carne, açúcar e amor.
Corta a terra em si encerra,
liga, une. Uma saudade do vapor!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

É só um objeto...

Bola rola...
Um, dois jogadores na cola
Geografia: mundo bola.
-Não "geóide"-
roda, rola
pelo espaço
bola de aço
galvanizado.

Bola de neve
alcoólica, côco
pinga, gira
cabeça
redonda.

Roda de tortura
engrenagem, tartaruga.
Maquiagem:
baton, roll-on na axila.
Bicicleta, patinete
gira roda da fortuna.

Pirulito, sol e lua.
-Praça, só é quadrada em Inglês.-
Massa, pizza, barriga,
célula de gordura,
dura pele capotão.

Redonda mesa
a cerveja
embriaga
nossa gente.
Bola, gol.
Cama redonda
às 4 da tarde
um time oprime
idéias na TV.
Bola, mola
do dinheiro
agora é ópio
desse povo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O Leitor e o Crítico

La reproduction interdite - René Magritte

Havia uma pedra no meio do caminho,
havia um passarinho no meio do caminho,
na estrada da vida estava presa à minha tua mão.
Então, se tudo isso havia...
problemas, temas e teoremas se entreviam.
Para quando perceberes que tudo isso é vão,
foi-se seu tempo.
Quando notares quantos eles são,
tornarás a escrivaninha,
criarás mais uma linha:
Problemas Críticos Não.

E porque escrever? (poema incidental)

Letra após letra, linha torta, grossa ou fininha. Palavra por palavra artigo, substantivo, adjetivo e algum advérbio. Parágrafo semi-texto, semi-idéia, Dulcinéia do cavaleiro teclante, ante a tela branca desafiadora. Texto, resto empresto uma emoção a minha tela. Ela que nunca responde o que lhe pergunto, junto ao pé do mouse, luz azul mutante. Antes criasse notícias, mentisse sobre os outros, noutros multi-meios cheios de assonâncias e aliterações.
Escrever e não ler pra nada acontecer, em prosa e verso, inverso de tudo que há neste universo. Assim converso com Machado e Pessoa e numa boa o cursor segue seu curso, Corso e Russo para expor a emoção, a trangressão, a translação desta verborragia fria; necessidade de criar mais arte em parte bit e palavra teclada, mas, lida sem emoção.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Antimétodo


Minto no mito
antimétodo da história
que histérica conta
um mais um dois
três quatro cinco mil
vezes não às mentiras
metradas na régua do destino
nordestino retirante pro sul
cheio de céu de nuvens de sal
onde o mal é líquido
pois quando inunda
molha a bunda
do anjo fofo
cheio de mofo
sobre o altar.

A Lei e o Erro


Errei por andar além do limite,
tropecei na linha entre o bem e o mal.
Levantei a cabeça e no fim do túnel - uma luz.
Era o trem que vinha na direção contrária.

Errei quando escolhi ficar vivo
na morte não há conhecimento
nem sensação, nem amor.

Errei quando toquei naquele fruto:
alta jaqueira intangível,
rasteiro morando tímido escondido,
laranja da discórdia do grego aturdido.

Mas para haver Erro é necessária Lei:
Previsão de crime e sua conseqüência,
uma visão futura desta delinqüência
onde sem limites somos escravos
do nosso própio desejo.

Colapso da Poesia


A poesia acabou
como um poço que seca
uma criança tropeça
olha pro céu e chora.

Rimas, mas onde foram?
Climas, aquecidos estouram.
Versos pro espaço - universo.

O sentimento é ambíguo,
e o preço do trigo
nem pão, nem vinho.
Musa, porque nos abandonou?

Colapsou a poesia!
Descansa na UTI.
Um médico enfia
um pouco de vida em ti.

Recolho minha pena
que tantas vezes te cutucou.
Vou catar meus pedaços,
vou amarrar os cadarços
e comprar flores pra você.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A Dor


Uma dor funda no peito...
Será um enfarte, será? Será?
Uma lágrima brilha clara no olho escuro.
Um sorriso desfeito no canto da boca,
na língua um gosto amargo de tristeza e fel.

Chorei pelas ruas, ninguém me viu,
cambaleei pelas calçadas, caí bêbado no chão....
O mundo gira a minha volta....
Volta! Volta, que sinto sua falta.
Alegria, onde você está?

Fiquei só e ouvi passos se afastando em meio a névoa,
era Deus que partia sem se despedir.
Era a vida que se esvaía como perfume em flor murcha,
como sonho depois do despertar.

A barba cresce, a mente cansa
e nesta dança de ódios e entrigas
só eu apanho em meio a briga...
direto de esquerda, Knock Out!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Visões da revolta


Desperta 5h00 da manhã
café requentado, pão dormido
engolido com pressa.

Caminha, rua de terra, frio da madruga...
rosto seco, barba feita, uma ruga.
Sapato gasto, no bolso um trocado.
2,50 a passagem isso é um assalto.
São duas pra ir e pra voltar.

Uniforme, ferramenta, ordem.
Caixa, peças desordem.
Toca, toca sinal. Avisa, é hora de parar...
a marmita fria, o bife solado
a carne está pela hora da morte.

Volta depois de tudo, nem viu o sol
podia ir prum parque....
aqui só tem bar, igreja e terreiro
mas tem uma casa linda na outra margem
onde um pai brinca com seu filho livre
num condomínio fechado.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Poeta em construção


Quis escrever como Fernando,
Efes e erres não satisfazem erros.
Quis rimar como Camões,
Quadras, rimas, redondilhas
sempre, as palavras inutiliza
horríveis versos em bordão.
Quis ser romântico, Carlos ou Vinícius,
linhas tortas palavras certas prum engenheiro
da palavra: emoção.
Quis ser poeta, um homem por inteiro
cabeça, tronco, mente e membros
doados às palavras que enrolam novelos
que tecem tramas e revelam erros
deste poeta em construção.

Aqui


Aqui onde o sol esposa a terra,
onde o irmão levanta em guerra
e a espada da razão não vence.

Aqui nesta cidade suicida
milhões de kamikazes
em ônibus às 6H00 da manhã
seguem solenes seu destino.

Aqui onde o atabaque, o centro,
a macumba, rezas, velas, comidas
religiosidade singela, primitiva
agrada aos deuses, aplaca a ira.

Aqui onde dentro o ensurdecedor silêncio
combina um câmbio de estado
cá fora nesta fumaça
barulhenta gente e motor.

Neste lugar onde somente se vê o dinheiro
dólar, libra, yene ou euro.
-Tenho pra vender. Quem quer comprar?
-Tenho sonhos semi-novos, palavras de segunda mão,
rimas pobres de música, músicas sem reflexão.
-Tenho olhos vermelhos de cachaça e fuligem
e um retrato roto daquela virgem
que me deixou na solidão.

Corre o menino atrás da pipa que voa e vai,
linha solta ao vento, seu sabor, seu tempo
limpo, nublado, mutante seja qual for.
Quando a mulher passa na cadência celeste
nesta rua que mira a leste, nascente vem.
Cabeças se curvam, sorrisos, margaridas desabrocham,
murcham girando pelo sol que passou.
Então nuvens cobrem de branco a fronte azul,
relampagos cortam feições tempestuosas nas faces
que pingam o choro dolorido pelos idos dias de sol.
E as sementes caidas no chão assitem a tudo
junto as raízes mortas dos que já se foram
esperam um dia correr, mirar, desabrochar e embranquecer.