"Ser poeta não é uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho." Alberto Caeiro
terça-feira, 1 de julho de 2008
Meu coração.
Frio no peito
geléia-real da ciência
acaricia o externo
a procura da fibra
que vibra 120 vezes por minuto.
Desfibrila 220 joules... um luto.
O Eco na tela figura pretoebranca.
A imagem é de eco e nem um resto
da coisa imaginada surge.
Ruge, e urge, e pulsa disforme.
Contraste, brilho, cinza.
-Onde está?
Não encontro a emoção,
nada de sentimento.
E neste momento...
-Pode se virar, por favor!
Nada na aurícula,
nada no ventrículo.
Sístole e diástole.
-Um sopro!
Mas tudo OK.
-Acabou.
Vou sair desta sala,
e procurar naquela mala
o poema que descrevia um coração.
Vou copiá-lo perfeito
Vou pregá-lo no peito
neste lado, o direito.
O da mediciana foi uma decepção.
4 comentários:
impressionante como você consegue fazer poema com qualquer coisa.
sobre seu comentário: não sei bem qual foi sua interpretação sobre o texto que coloquei, mas talvez eu tenha sido um pouco radical nele. De qualquer forma, queria ver a reação que os outros teriam ao ler. Acredito em deus, você sabe, mas as vezes me pego em meio a várias dúvidas. Se o erro nos redimirá, então posso ser perdoado também caso tenha sido herege. Escrevi apenas o que penso.
Abraços, aparece rapaz!
Boaz,
É díficil acreditar, mas "o coração da medicina" também pode ter momentos de lirismo profundo: eu tinha náuseas só de pensar em uma operação de transplante até ver um vídeo interno para os alunos da Escola Paulista de Medicina.
Depois de todo aquele sangue e daquela aflição (hhh), o impulso mecânico que faz o coração novo, transplantado bater novamente na pessoa é dado pela mão do médico: 'o cirurgião devolve a vida ao paciente com um toque firme no coração do transplantado, literalmente'! Parece-me um dos momentos mais dramáticos, mas, ao mesmo tempo, bonitos da Medicina...
Mas o efeito da oralidade das perguntas e do diálogo entre as estrofes rimadas é sempre tão interessante! Principalmente dos diálogos interiores...
Me lembra o Chico Buarque ou o Carlos Drummond de Andrade: 'E agora, José? E agora você!'
Abraços;
Ué? Quero mais!
Gostei mto de seu texto... copiei-o e colei em meu blog(gostaria de saber seu nome para identificar o autor)
Bjs
Postar um comentário