quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Eterno Déjà vu


O que vi ontem voltou hoje;
os caminhos por onde passei são os mesmos
tudo sempre igual.
O mundo, hoje, não vai mal.
Mas o Sol, nasceu mais uma vez
E esse vento no meu rosto de viés
refresca com secura a minha tez.

Este mês
trabelhei duro,
paguei o seguro,
vaguei pelo escuro
das telas claras do computador.

Olhei pra fora
E vi você de cabelos negros,
lambendo os dedos
e querendo amor.

Tudo sempre o mesmo
tudo claro como o breu azul
neste sonho real do meu eterno déjà vu.

Rotina


A rotina corre no trilho parada
vai e vem sempre a mesma.
Erma travessia que ia
que vem e que vai
e cai ressecada
olvidada da vida,
da lida,
desse tempo
que se esvai.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Meu filho.


Quero fazer uma poesia só minha
um corpo de palavras que caminha
Anda pelos corredores das secas goelas
pelas roucas cordas pretas
vocalizadas pelo hálito do amor.
Um filho feito de versos
olhos de estrelas, olhos de luz
No peito universo.
Inverso de si mesmo
igual a um outro
que erra a esmo
e sempre volta
pra se chorar e se desmanchar
em borrão.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Urbe II


A cidade de Anchieta feita a mão, humano viveiro
feito prédio de poesia, vendida na galeria
volta aos Concretos de letras engenheiros.

Bebe gelada a cerveja, embriaga copos ao meio
no grito alto: Gol! Show da massa
Neste erótico conto, branco e vermelho.
E vista de baixo. Cinza sobe a fumaça.

Por uma das lotações e ônibus
Engarrafada a avenida foi cruzada
E foi cruzado o céu pelo Airbus

Nauseada, boca-quente na TV.
Uma cidade encantada, rouca como macho,
na encruzilhada Pinheiros-Tietê.
Foi posto um despacho.

Urbe I


Foi posto um despacho
na encruzilhada Pinheiros-Tietê.
Uma cidade encantada, rouca como macho,
Nauseada, boca-quente na TV.

Foi cruzado o céu pelo Airbus.
Engarrafada a avenida foi cruzada
por uma das lotações e o ônibus.

Vista de baixo. Cinza sobe a fumaça.
Neste erótico conto, branco e vermelho
no grito alto: Gol! Show da massa
bebe gelada a cerveja embriaga copos ao meio.

Volta aos Concretos de letras engenheiros
feito prédio de poesia, vendida na galeria
À cidade de Anchieta feita a mão, humano viveiro.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Construção


Um sorriso pela manhã acordou o dia
Não era homem ou mulher, mas um bebê que sorria
Um olhar de pedido que me via
A mão com carinho descarado a seu pedido cedia
Assim cresce a construção...

O e-mail trocado: “Te amo”, no meio do dia
A mulher velha ajudada agradece a cortesia
Atenção para o amigo cujo relato comovia
Assim cresce a construção...

Cresce, encorpa e floresce
Carrega-se de frutos que gostos apetecem
Maduros os dias, seus frutos descem
À terra caindo perto da madeira
E novas construções fortalecem
Esta é a via e todo o Ser humano.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Em PretoeBranco


Em preto e branco vai a vida
sobe escada e rebola ainda
corre solta na avenida
flutua e fura os faróis.

Em preto e branco calça-e-camisa
garçom na mesa chope descia
padre na missa altar subia
brilham nos céus outros sóis

Em preto e branco festeja a alegria
dura realidade clara fugidia
brindam juntas as amigas bebem alcoóis

Em preto e branco toca piano, marimba ria
cerimônia dança catarse euforia
amor virgem alvo mancha lençóis.

Em preto e branco têm suas crias
crescem crianças correm estes dias
e envelhece a vida.
- Amor, agora, enfim sós!

domingo, 17 de agosto de 2008

Destino


Cada coisa tem seu destino.
O destino do coração, emocionar,
o destino da boca, falar.
Mas como falar o não experimentado?

Cada coisa tem seu destino.
O destino do caminho, guiar,
o destino do pé, caminhar.
Mas como ir onde, ainda, não se sabe?

Cada coisa tem seu destino.
O destino da mão, tocar,
o destino da arte, agradar,
Mas como agradar-se do intangível?

Cada coisa, cada coisinha um destino tem.
O destino do Homem, conhecer,
o destino do mundo, ocultar.
Mas só se conhece o que se sente
o que se fala, o que se experimenta,
onde se vai e o que agrada.
Mas como?

domingo, 10 de agosto de 2008

Sub


Suburbano toca o relógio 6h00 da manhã.
Maçã do rosto apertada no transporte, público, subumano.
A cidade se espalha mancha sub-atômica em baixo da ponte Ser-Hum-mano.
Ano que vem sobre o espaço de aço do prédio de vidro verde como o dólar.
Sobrancelha levantada sob o espanto da notíca, a polícia e o ladrão.
Ninguém é insubstituível na seleção sub-vinte da empresa.
Almoço, sempre o mesmo gosto de meio-dia todo bife, salada, arroz-e-feijão.
A noite veio e com ela o subterfúgio para a fuga,
crua e nua para correr. O que fazer ao sábado?
São brasileiros atarefados, subitamente ameaçados...
Porque a vida suspirou.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Meu coração.


Frio no peito
geléia-real da ciência
acaricia o externo
a procura da fibra
que vibra 120 vezes por minuto.
Desfibrila 220 joules... um luto.

O Eco na tela figura pretoebranca.
A imagem é de eco e nem um resto
da coisa imaginada surge.
Ruge, e urge, e pulsa disforme.
Contraste, brilho, cinza.

-Onde está?

Não encontro a emoção,
nada de sentimento.
E neste momento...

-Pode se virar, por favor!

Nada na aurícula,
nada no ventrículo.
Sístole e diástole.
-Um sopro!
Mas tudo OK.

-Acabou.

Vou sair desta sala,
e procurar naquela mala
o poema que descrevia um coração.
Vou copiá-lo perfeito
Vou pregá-lo no peito
neste lado, o direito.
O da mediciana foi uma decepção.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Quereres


Quero quero
a coisa linda
uma camisa de só linha
cobrir agora o corpo nu.

Quero quero
ver Veneza
e comer em sua mesa
desgustar outra beleza
Guerra Peixe ou Choppin.

Quero quero
ter emprego
gastar todo meu dinheiro
consumação de viver.

Quero Quero
olhos seus no escuro
e o meu nome lá no muro
lamentações brasileiras.

Quero-quero
e bem-te-vi
beijar-a-flor
no azulão
daquela pétala.

Quero quero
só querer
nova vida
em um bebê.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Vai surgir



Não acabou...
este é só o começo.
Uma linha, um poema, um soneto.
Nada mais leve que a felicidade
que voa sem rumo caindo num quintal.
Despedaçada por um cão.
E no chão gelado, o broto espera
por um raio de alegria,
por um pingo de sorriso.
E agonizo, olhando o céu cinza
nesta quarta-feira pós-carnaval.
Canavial manda um som doce-forte,
cortante e embriaga minha tristeza.
Pois, amanhã é quinta; o contentamento vai surgir.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Um gesto


Palma estendida em praia,
verdes ramos a beira mar.
Palma branca em riste
oscila um gesto embargado, triste,
em nave. MARejados olhos
azuis como o céu, estrada de ar.

Bocas, pela força da distância, separadas.
Desejo rever os olhos anuviados,
avoados que nadaram, andaram além.

Ontem sonhei com teus braços estendidos.
Caminhos de ferro que levam a teu seio.
Vale entre montes distantes.
- Acordei.

Teu retrato na gaveta,
teu vestido na maleta.
Um nó no pescoço.
- A gravata?
- Não.
A voz não sai,
só o gesto vai
dizer Adeus.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Democracia racial


“Hillary Clinton manifestou apoio integral ao senador Barack Obama na corrida presidencial dos Estados Unidos neste sábado. Em discurso em Washington, no National Building Museum, ela foi ovacionada e agradeceu muito aos seus partidários pela confiança durante a campanha à nomeação democrata.”


Agora o candidato Democrata à presidência dos EUA é realmente Barack Hussein Obama Júnior, um homem negro, de família africana, islâmica, do Quênia. Ele um orador de mão cheia daqueles que conquistam com poucas palavras os corações e mentes dos populares, sua esposa Michelle Obama, também negra e advogada.
Um casal de negros rumo ao poder máximo da maior democracia do continente americano. Quem diria!!! Justamente os EUA famoso por seus filmes de catástrofe nos quais é só o presidente ser uma mulher ou um negro e pumba! O mundo acaba. Quem não lembra de “Impacto profundo”? Morgan Freeman como presidente da América e um meteoro a caminho, meteoro este que acerta primeiro, em cheio, um dos maiores desafetos dos Yankees, a França. A mesma “America” aquela do “dream” onde todos podem alcançar o topo como em New York, New York, a mesma “America” da guerra do Sul escravista contra o norte libertário, a “America” da Ku Klux Klan.
Um exemplo para o multi-étnico e racialmente democrático Brasil?
Segundo alguns sociólogos como Gilberto Freyre não há racismo no Brasil, mas uma democracia racial comprovada pela miscigenação e coroada pelo carnaval. Mas fica a pergunta: Quantos candidatos negros ao cargo de mandatário máximo de nossa República temos ou tivemos? Não estamos no país das cotas para reverter o erro ”histórico” da escravidão monarquista? Pois, é na nossa “democracia” que o líder deve ser macho e branco; condição sine qua non. Mas aparentemente temos uma mudança... as mulheres já foram aceitas no grupo de mandantes; vide Marta Suplicy, Dilma Houssef entre outras. Porém, o índio, o “homem-da-terra” e os negros assistem a “democracia” pela TV, nos intervalos da novela. Como se tudo só acontecesse lá longe em Brasília.
“America” mais uma vez estamos um, dois, muitos passos atrás de você. Mais uma vez as teorias terceiromundistas se mostram falhas e cai o véu do carnaval racial e da convivência pacífica.
“Brasil, mostra a sua cara...” era o tema duma certa novela global, compremos esta idéia, até porque a Democracia é ou não é o governo da maioria?

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Um "Bom" resultado




Zero a zero.
Apenas a suficiente
deficiência de saber
ciente das limitações
que nunca beira o erro.

Empate técnico:
Dois pontos pra mais ou pra menos.
Louça limpa, mas estômago vazio.
E a polícia lá do Rio:
Tráfico um, polícia um.
Cai daqui e cai de lá.

Nada se perde, nada se cria
TUDO se deforma
em massa sem cheiro
pasteurizada, levedada,
pois, tudo que é sólido é feito de ar.

Medíocres do mundo uní-vos!
Contra tudo que brilha.
Contra tudo que é vida.
Contra glória e vitória.
Afinal, o empate é um bom resultado...

sábado, 17 de maio de 2008

Janelas


Através dela vejo a rua,
vejo gente andando nua,
vejo a mulher que passa e esta Lua.
Através destes olhos quadrados,
semicirculares da alma, e nela versados.
Dos lados da cabeça grande que esconde
pensamentos, criações aos montes.
A verdade se nota através dela.
Limpa, clara, verde como de um carro,
insulfilme do óculos separa o dentro de fora.
Ora deixe disso, abra a janela deixe o riso
como um vento fresco encher seus pulmões.
Da janela vê-se tudo, vê-se nada
Da janela a jornada
dos olhos
que se jogam pra ver.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Tesoura


Cresce cabelo, unha, pêlo. Corta.
Mais tecido cresce da máquina, papel de escrever. Corta.
Nota azul, no boletim, vermelha . Corta
Cresce erva, na soleira, daninha colheita. Horta.
Torto ramo, vira um pouco, a pleura do coração. Morta.
Nasce mais um, umbigo, plascenta. Corta.
Nota: sol, mi, ré, dollar, cai juros. Economia Torta.
Taxa de colesterol, PIB, inflação, amor. Corta.
No início era a foice, e ela foi-se e faca ficou...
o corte cirúrgico, estética forma. Natureza Morta.
Na delicadeza do bisturí a beleza. Forma.
Tesoura, moura de tradição, apara a vida.
Numa estética emoção.

domingo, 6 de abril de 2008

RG


Apressado vai em pleno trânsito.
A esposa na mesa de operações.
O Plano de saúde:
- Precisamos da identidade!
Volta apressado pra casa, busca o RG...
Um documento, uma folha verde,
números, o dedão marca.
Uma vida precisa de identificação...
- Quem sou Eu?
Trânsito impede livre passagem,
ultrapassagem, vira à esquerda...
- O ônibus!
- Quase bateu...
Uma passageira caiu...
Freada, susto, vozes altas.
- Quem é você?
Todos pro hospital...
UBS, criança em choque,
saúde em cheque
no rádio um rock:
"O Pulso"
- Ela caiu, precisa de socorro!
- RG, por favor.
- Esqueci em casa...
Não há atendimento
RG
mais uma pessoa vai sofrer.

domingo, 30 de março de 2008

Cigarro



Num ato os quatro elementos,
um instante tantos lamentos
e a fumaça sobe alta pro céu.

Domínio humano industrial
da terra brota a folha, cresce ao sol;
pisando os caminhos do campo
trabalho cansado de tantos.
Fábrica.

Molhar a matriz do solo
água límpida que bebe
sorvendo em goles
a preciosa vida mineral
domina a sede.

No ar voam as nuvens
que pra terra voltarão
num ciclo contínuo
voa o avião, o helicóptero.

O Fogo das tochas, isqueiros e fósforos;
vãs cabeças pirotécnicas incandescentes.
A fumaça desce da boca ao pulmão:
Um prazer indescritível!
A morte infalível!
O prazer de dominar
os quatro elementos.

domingo, 23 de março de 2008

Aos escritores contemporâneos

A poesia Contemporânea nacional toma rumos, que em minha opinião, distanciam-se cada vez mais o leitor deste gênero literário. Se prestarmos bastante atenção nas produções on-line o que se vê é um misto de "intimismo-autista-ultra-romântico-edonista-existencialista-auto-ajuda". Pode parecer exagero, mas prestem bem atenção às produções "poéticas" disponíveis na net! Ou mesmo os novos lançamentos editoriais, se é que se pode achar algum!"

Não há compromisso com a beleza, ou com uma mensagem, nem mesmo com o leitor. "Que se dane sua capacidade interpretativa o que vale mesmo é escrever e isso basta!"

Esta é, em minha opinião, a atitude da maioria dos "pseudo-poetas" ou "pseudo-literatos", todos togados achando que pra escrever é necessário seu diploma de Língüítica ou dum curso de letras. Um academicismo de nariz em pé, uma arrogância fake.

E o que eles escrevem?
Eu respondo. NADA!

Falam mal e escrevem mal de tudo e de todos, nada presta e o melhor que eles fazem é ininteligível, por que não há nenhum comprometimento com o leitor, com o outro.
Onde estão os Paulo Lemisnki de hoje? E os Glauco Mattoso.... Estão por aí sendo vilipendiados por estes cri-críticos metidos a Cult... E sinceramente, pra mim Cult é quem vai a Igreja todo Domingo!

Cada dia que passa, quanto mais leio, quanto mais converso percebo que as pessoas estão cada vez mais ocas; ou como diria um otimista: "Estão mais cheias de Ar". Este é um sintoma de nosso egoismo-autista atual, nosso mal-do-século, um vazio existencial, um vazio de significado em busca do prazer intenso, artificial e rápido. Vide o Êxtase, o BBB, as Raves.

Liberal que sou apoio a liberdade, isso está implícito, mas não posso me furtar a criticar a superficialidade, a artificialidade, a "arte fast-food" de consumo rápido e barato. Não sou saudosista; mas o que gostaria muito de ver é a criação de algo realmente simples e tocante, algo que lance mão das novas técnicas para desvelar o interior deste homem do início do século 21. Um homem Ahead, Advanced, Fashion-freak, e plugado; mas ao mesmo tempo triste, esgotado e que morre perplexo com tudo o que não pode viver.

Assim como escritores e poetas devemos ser simples, ser mais humildes, ser inspirados pela beleza do outro e deste novo mundo que nos cerca. Devemos escrever menos e melhor. As futuras gerações agradecem.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Bi-ciclo


A roda foi inventada na Mesopotâmia.
O freio depois do primeiro acidentado.
O capacete após o primeiro traumatizado.
O pedal por quem não queria mais empurar.
Um quadro, um losango, duas rodas.
Um sorriso de criança, um sonho cor de rosa.
A ladeira, um cansaço, mais de 120 vezes bate o coração.
Mais de 30 km/h voa entre a multidão.
Um barreiro, adolescente cross-country do burguês.
Luz na frente, paralama que não segura nada.
Nonada, ainda gira mundo seu diário melodrama.
Acabado a noite ama
o seu sono, seu sonhar.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Meu Disco de vinil

Liga...
gira
voa
S O M
agulha
pica
o beat
o braço
um passo
dança
mansa
de rosto
colado
no baile
toca
aquela
do João:
"Chega de saudade"

Um pequeno Ditador


tic- tac- tic- tac- tic-tac-tic-tac
trimmmmmmmmmmm
gira tic, gira tac, um segundo se passou
trimmmmmmmmmmm
Marcha, gira, gira e marcha
sobre a mesa se agacha
tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac
apressado o ponteiro
tic-tac-tic-tac-tic-tac
na batida dum fereiro
tic-tac-tic-tac
demarcando o Sr. Tempo
tic-tac
ordenando Sua Vida
tic....
que não pode ser vivida
tac...
o seu tempo
acabou
trimmmmmmmmm.

Lápis


Duro cinzento
roliço pobre
coisa do passado
vive hoje, quase, aposentado,
pela tela e o teclado.

Piadas e finura
seu traço na reta da lapiseira;
rude, pré-histórico.
Planos de liberdade e revolta,
paredes mais retas, linhas tortas,
chato e vermelho: liquidação.

Na Ásia azul foi um dia,
cara jóia, rara iguaria.
Agora rola colorido nas mãos das crianças
ou jogado num canto, não vai mais ao espaço.
A tinta venceu. Acabou-se o ato, seu fim não se diz.
O lápis repousa na mão inábil do aprendiz.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Promoção R$ 1.200,00


Liga. Não há botão. Dever ser o play...
Brilha telinha de cristal líquido
som límpido no fone branco
Ipod, quebrar não pode.
É caro e não tem manutenção.
Atenção, até 160 Gb de música!

Ando e ouço, sento e vejo...
sou dependente da máquininha supreendente.
Cara como o diabo....
-Cuidado! Olha o ladrão!
-Aí Boy, perdeu... Passa pra cá.
40.000 músicas, 200Hs de vídeo
e a vida passa. Silenciosa na janela,
animada nesta tela...
Gira pra lá e pra cá.

"Esqueçe de ti mesmo."
Olho de peixe, vidrado a esmo.
Não importa o ladrão,
nem o aperto da Lotação;
só a janela cinza, e mente entorpecida
pela bagatela de R$ 1.200,00.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Mesa

, e mais nada a volta do altar/a cerinômia se consuma/uma vida se acaba/a cabo de sacrifício/aplaca a divindade/sedenta de vida/- que pinga nas gotas salgadas-em ruas alagadas de gente faminta-a volta da ara feijão e arroz-engolidos por fome-que mata, maltrata, desata revoluções.-*Sobre o plano reto faca e garfo mordendo a carne nua*semi-crua da gente que paga*pra nascer e morrer. *\A mesa está posta\a história a suas costas\velas, mãos estendidas, um copo\mas esta fome, esta cerveja\e estes amigos são um alívio\ à nossa dor.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Volume Volúvel


Volumosa sua carne em branca histórias conta.
Intrigas, amores, rumores, aventuras, os dias.
Personagem da história do homem com tédio
para solidão certeiro remédio
para ignorância e escuridão.

Grande ou pequeno,
vazado ou veneno
na mente do leitor.
Este é o Livro em forma de bíblia
de morte e de vida.
Cedo ou tarde
Mallarmé, Balzac ou Sade.
Não interessa o que você vê
quando abre a capa um mundo se desata
Nutrindo, matando o que há em você.

segunda-feira, 3 de março de 2008

A "Net" de aranha


Um fio conecta, liga. Link é mais chic.
Deste lado da tela, tc um msg p/vc
do outro lado do teclado o sol
esgueirando-se entre as lâminas da persiana.

Um golpe no mouse, este dispositivo
disposto e ativo, nativo do Silicon Valley.

Branco abre o site
meu nome nele aparece
intimidade nele enrubesce
e popular fica, mesmo que se conturbe
a imagem no YouTube.

Não há mais conhecimento,
só lamento e apresento o mais novo aparelho
de lavagem cerebral. 70% pornografia.

Não te conheço, não me conhece.
Nunca te vi e nem quero que veja
mas podemos ter um caso
ou que tal um amasso, virtual.

Nesta "Net" de aranha....
Os olhos não se enchem de ver,
os ouvidos não se enchem de ouvir
essa mesma ladainha
que hoje já é rainha:
Oferta!... Aumente o seu Pênis!

Só há rostos sem nome,
nomes sem personalidades
e pessoalidades impostas
pelo crivo popular, essa Massa.

Bem-vindos à cultura sob medida:
Tudo feito, tudo perfeito
Pra você e Por Você.

Uma caixa MÁgica

"Eu te possuo.
Desligue isso!"



Tela de vidro, permitida intromissão
missa ao domingo, Marcelo, Faustão.
Janela de cores polegadas uns mil.
Retrato falado, escarrado Brasil.

Abre a janela da mente
e veja na tela amarela a febre vencer.
Um time que joga, reverendo que roga,
- O premiado, é Você!!

Riqueza e miséria e aquela mui séria
sereia seria receita, cozido dendê?

Lá no Himalaia e Casaquistão
postados na frente meninos estão
Parados, pétreos, boquiabertos seus dedos
frenéticos direita, esquerda, X,Y,Z.

Notícia: fica de olho, mas nada de novo:
Um avião caiu, mais uma ação subiu.
Mais uma bomba feriu o seu coração.

Caixa dos trouxas. Liga tomada,
desliga da vida, sara ferida...
- Quieto! A Novela vai começar!

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Coletivo


Apressadas pessoas se imprensam,
umas contra as outras, nesta lata que
dura corre ruas e avenidas.
Suam e lêem,
vêem: carro com ar-condicionado através janela fechada.
Um calor....
A chuva acumula o ar-viciado nesta dura miséria,
esse transporte coletivo.
Coletivo de gente: multidão.
Sacrifício coletivo,
um poeta emotivo
em meio à confusão.

Nem o trem nem o metrô
servem para esta lata esvaziar.
Só a enchente.
R$ 2,30.
Solavancos e sonos, doentes e pedintes.
No ônibus todos os sofrimentos se encontram.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Cercas e Muros.


















Pedras amontoadas dividem.
Pedras desgastadas revivem...
Memórias: "Te Amo" escrita
no cinza-verde da brita,
argamassa, concreto bruto.
Boas cercas fazem bons vizinhos.
Boas mesas, finos vinhos.
Boas prosas fazem: escritor.
Boas obras desfazem pecador.
Mas separa da vida, uma cerca erguida
entre mãos que não se tocam,
entre olhos que não se olham,
entre nós.
Construção de humano engenho
trilha de ódio feita com empenho.
Cenho. Fechado. Tradicional e sagrado:
O que é meu é meu, o que é seu é seu.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Leito


Quando estiver neste lugar lembra:
Daqui você saiu e para cá vai voltar.
Criança que não caminha longos dias,
noites; nem percebe que lá fica.
Adolescente pessoas atraentes em sonhos...
Doces sonhos de vitórias e glórias futuras.
Adulto antro das paixões concretas,
pesadelos, noites sem dormir.
Idoso, ido o tempo das tormentas.
Vem... pouco descanso e o último suspiro.
Sobre teu peito branco, multicolorido
navega, nau imóvel; mas parece que flutua.
De água, penas ou molas...
Ontem foi madeira, hoje tubo,um dia, tatame.
Na cama a vida se resume, o torpor da preguiça e a energia do vencedor.
Um choro sobre seu peito, nascimento, vida.
Um choro a seu pé - suspiro, último, morte.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Ardil de metal

Ardil de metal, placa, mola.
Morte industrializada,
identificada: Código de barras.
Adesiva: pega tudo eficiente e prática,
Galvanizada: É o fim...
Gaiola: não escapa!


A isca convida
no cheiro do queijo,
a fome. Só alguns metros...
Saciar o animal instinto.

É mais forte que eu...
-Então vou! Correrei o risco,
agirei de improviso.
Um passo, uma mordida...
- Mortal! A armadilha se fecha.....
- Meu pescoço! Não posso respirar....
.................................................................

Como é cruel a vida
que nos dá fome,
queijo, pescoço
e a ratoeira.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Mais poesia em nossas vidas.




Como os leitores podem perceber iniciei uma série de poemas num estilo como diria... naïf sobre coisas... objetos pra ser mais objetivo.
Como uma das propostas deste blog é a experimentação, poesias em forma de prosa ou com temas banais estão aqui com um objetivo: RESGATAR A POESIA DO CORRIQUEIRO, DO DIA-A-DIA. E só.

Proposta estética?
Sim, temos...: "Perceba a poesia em sua vida e viva melhor..."
e como disse alguma vez o saudoso Renato Russo z'l:
"... ora, se você quiser se divertir
escreva suas próprias canções."

Eu faço um remendo em sua mensagem: ESCREVA AS POESIAS QUE VÊS COM TEU CORAÇÃO.

Mais poesia
menos guerra
mais amores
menos feras
mais compreensão
mais tolerância
mais crianças
mais risos
mais luz
mais de você.

Faça-se feliz escreva poesia!

Boaz Ben Av

Essas gotas...


Cai sólida como pedra,
gota rola leve como pluma
vida e morte te acompanham.

Nuven sopra, vento negro,
frio, medo, treme a espinha.
- Raio, trovão.

Bumbururumbumbum!
Bombas sobre a cidade
citiada por cidadãos
neste abrigo sem-teto
neto repete o ancião.

Molha tudo, alaga:
moto, carro, caminhão.
Sinal vermelho, amarelo!
Uma batida um martelo,
prefeito, revolução.

Acampa no campo verde,
alva-alta sobrevoa
foi-se a chuva, cio da terra;
na cidade alagamento.

Agora chora pobrezinho
perdeste teu chãozinho
enxurrada o levou.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Minhoca de metal


Elétrico vem o trem,
trem que vai, trem que vem.
Trem bão, trem doido.
Como bala na minha sala, aéro-trem.

Minhoca de metal
sobre a terra
soterra distâncias
traz perto o além.

Sobe ponte monotrilho
desce à terra é metrô.
Na planilha do engenheiro
comanda computadô.

Trem carrega, gente viva,
carne, açúcar e amor.
Corta a terra em si encerra,
liga, une. Uma saudade do vapor!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

É só um objeto...

Bola rola...
Um, dois jogadores na cola
Geografia: mundo bola.
-Não "geóide"-
roda, rola
pelo espaço
bola de aço
galvanizado.

Bola de neve
alcoólica, côco
pinga, gira
cabeça
redonda.

Roda de tortura
engrenagem, tartaruga.
Maquiagem:
baton, roll-on na axila.
Bicicleta, patinete
gira roda da fortuna.

Pirulito, sol e lua.
-Praça, só é quadrada em Inglês.-
Massa, pizza, barriga,
célula de gordura,
dura pele capotão.

Redonda mesa
a cerveja
embriaga
nossa gente.
Bola, gol.
Cama redonda
às 4 da tarde
um time oprime
idéias na TV.
Bola, mola
do dinheiro
agora é ópio
desse povo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O Leitor e o Crítico

La reproduction interdite - René Magritte

Havia uma pedra no meio do caminho,
havia um passarinho no meio do caminho,
na estrada da vida estava presa à minha tua mão.
Então, se tudo isso havia...
problemas, temas e teoremas se entreviam.
Para quando perceberes que tudo isso é vão,
foi-se seu tempo.
Quando notares quantos eles são,
tornarás a escrivaninha,
criarás mais uma linha:
Problemas Críticos Não.

E porque escrever? (poema incidental)

Letra após letra, linha torta, grossa ou fininha. Palavra por palavra artigo, substantivo, adjetivo e algum advérbio. Parágrafo semi-texto, semi-idéia, Dulcinéia do cavaleiro teclante, ante a tela branca desafiadora. Texto, resto empresto uma emoção a minha tela. Ela que nunca responde o que lhe pergunto, junto ao pé do mouse, luz azul mutante. Antes criasse notícias, mentisse sobre os outros, noutros multi-meios cheios de assonâncias e aliterações.
Escrever e não ler pra nada acontecer, em prosa e verso, inverso de tudo que há neste universo. Assim converso com Machado e Pessoa e numa boa o cursor segue seu curso, Corso e Russo para expor a emoção, a trangressão, a translação desta verborragia fria; necessidade de criar mais arte em parte bit e palavra teclada, mas, lida sem emoção.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Antimétodo


Minto no mito
antimétodo da história
que histérica conta
um mais um dois
três quatro cinco mil
vezes não às mentiras
metradas na régua do destino
nordestino retirante pro sul
cheio de céu de nuvens de sal
onde o mal é líquido
pois quando inunda
molha a bunda
do anjo fofo
cheio de mofo
sobre o altar.

A Lei e o Erro


Errei por andar além do limite,
tropecei na linha entre o bem e o mal.
Levantei a cabeça e no fim do túnel - uma luz.
Era o trem que vinha na direção contrária.

Errei quando escolhi ficar vivo
na morte não há conhecimento
nem sensação, nem amor.

Errei quando toquei naquele fruto:
alta jaqueira intangível,
rasteiro morando tímido escondido,
laranja da discórdia do grego aturdido.

Mas para haver Erro é necessária Lei:
Previsão de crime e sua conseqüência,
uma visão futura desta delinqüência
onde sem limites somos escravos
do nosso própio desejo.

Colapso da Poesia


A poesia acabou
como um poço que seca
uma criança tropeça
olha pro céu e chora.

Rimas, mas onde foram?
Climas, aquecidos estouram.
Versos pro espaço - universo.

O sentimento é ambíguo,
e o preço do trigo
nem pão, nem vinho.
Musa, porque nos abandonou?

Colapsou a poesia!
Descansa na UTI.
Um médico enfia
um pouco de vida em ti.

Recolho minha pena
que tantas vezes te cutucou.
Vou catar meus pedaços,
vou amarrar os cadarços
e comprar flores pra você.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A Dor


Uma dor funda no peito...
Será um enfarte, será? Será?
Uma lágrima brilha clara no olho escuro.
Um sorriso desfeito no canto da boca,
na língua um gosto amargo de tristeza e fel.

Chorei pelas ruas, ninguém me viu,
cambaleei pelas calçadas, caí bêbado no chão....
O mundo gira a minha volta....
Volta! Volta, que sinto sua falta.
Alegria, onde você está?

Fiquei só e ouvi passos se afastando em meio a névoa,
era Deus que partia sem se despedir.
Era a vida que se esvaía como perfume em flor murcha,
como sonho depois do despertar.

A barba cresce, a mente cansa
e nesta dança de ódios e entrigas
só eu apanho em meio a briga...
direto de esquerda, Knock Out!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Visões da revolta


Desperta 5h00 da manhã
café requentado, pão dormido
engolido com pressa.

Caminha, rua de terra, frio da madruga...
rosto seco, barba feita, uma ruga.
Sapato gasto, no bolso um trocado.
2,50 a passagem isso é um assalto.
São duas pra ir e pra voltar.

Uniforme, ferramenta, ordem.
Caixa, peças desordem.
Toca, toca sinal. Avisa, é hora de parar...
a marmita fria, o bife solado
a carne está pela hora da morte.

Volta depois de tudo, nem viu o sol
podia ir prum parque....
aqui só tem bar, igreja e terreiro
mas tem uma casa linda na outra margem
onde um pai brinca com seu filho livre
num condomínio fechado.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Poeta em construção


Quis escrever como Fernando,
Efes e erres não satisfazem erros.
Quis rimar como Camões,
Quadras, rimas, redondilhas
sempre, as palavras inutiliza
horríveis versos em bordão.
Quis ser romântico, Carlos ou Vinícius,
linhas tortas palavras certas prum engenheiro
da palavra: emoção.
Quis ser poeta, um homem por inteiro
cabeça, tronco, mente e membros
doados às palavras que enrolam novelos
que tecem tramas e revelam erros
deste poeta em construção.

Aqui


Aqui onde o sol esposa a terra,
onde o irmão levanta em guerra
e a espada da razão não vence.

Aqui nesta cidade suicida
milhões de kamikazes
em ônibus às 6H00 da manhã
seguem solenes seu destino.

Aqui onde o atabaque, o centro,
a macumba, rezas, velas, comidas
religiosidade singela, primitiva
agrada aos deuses, aplaca a ira.

Aqui onde dentro o ensurdecedor silêncio
combina um câmbio de estado
cá fora nesta fumaça
barulhenta gente e motor.

Neste lugar onde somente se vê o dinheiro
dólar, libra, yene ou euro.
-Tenho pra vender. Quem quer comprar?
-Tenho sonhos semi-novos, palavras de segunda mão,
rimas pobres de música, músicas sem reflexão.
-Tenho olhos vermelhos de cachaça e fuligem
e um retrato roto daquela virgem
que me deixou na solidão.

Corre o menino atrás da pipa que voa e vai,
linha solta ao vento, seu sabor, seu tempo
limpo, nublado, mutante seja qual for.
Quando a mulher passa na cadência celeste
nesta rua que mira a leste, nascente vem.
Cabeças se curvam, sorrisos, margaridas desabrocham,
murcham girando pelo sol que passou.
Então nuvens cobrem de branco a fronte azul,
relampagos cortam feições tempestuosas nas faces
que pingam o choro dolorido pelos idos dias de sol.
E as sementes caidas no chão assitem a tudo
junto as raízes mortas dos que já se foram
esperam um dia correr, mirar, desabrochar e embranquecer.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Mais um de amor.(Ahavah)


Amo, amar faz parte do ser humano.
Amo alguém para amar a mim mesmo.
Amo desde o leite materno, vida.
Amo, luz quente do girassol no céu.
Amo, irmãos feitos pela amizade.
Amo saber que pouco sei sobre tudo.
Amo uma mulher de cabelos brancos.
Amo este ar que sustenta o dirigível.

Ame o que se lhe é dado.
Ame mais alguém e a si.
Ame a Deus no céu e alguém na terra.
Ame as idéias mais que as coisas.
Ame falar sem interesses.
Ame como a nuvem em pureza.

O amor é um dom especial
nasce, cresce, vive além de nós.
Amor não é sentimento, é estado de espírito.
O Amor precisa cuidado, terra fértil e chuva,
carinho, conversa, compreensão,
mansidão, sorriso e entrega.

Venha...
Abra o coração e
Ame você também.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

São Paulo 454, nas duas direções.

454 para direita, 454 para a esquerda.
Este número é a cara de São Paulo, uma cidade de mão dupla onde os opostos convivem:
A cultura do MASP e as mãos gatunas dum cozinheiro.
A riqueza do Shopping Iguatemi e a popularidade do Aricanduva.
A música da sala São Paulo e o batidão ilegal da periferia.
As empresas de marketing e a ausência de outdoors.
O grito de liberdade no Iprianga e a escravidão de bolivianos no Bom Retiro.
São Paulo é isso aí, um lugar para todos e para ninguém, um lugar com vocação e convocação de riqueza e de pobreza, de civilização e de babárie, de paz e de guerra, de sol e de chuva, de ricos e pobres.
O metrô sobe a bolsa desce, a igreja enche o milagre acontece.
Temos a cozinha de todo mundo e a fome de todas as bocas, temos o 'Ibira' central park e a falta de lazer do Real parque. Temos parada o ano inteiro, seja gay, seja de motoboy. E como não poderia deixar de ser temos a atração mais importante de uma grande cidade: o TRÂNSITO.
Seja no ar, seja na terra está tudo sempre engarrafado:
A estação de trem, a fila do banco, a boca do caixa, o vestibular, as salas de show, as salas de aula, a praça do shopping a praia de Santos.
Apesar de tudo isso o paulistano não vive fora de São Paulo, seu habitat natural. E isso é tão verdade que quando ele vai pro interior fica intoxicado com o excesso de oxigênio

Parabéns São Paulo!

São Paulo


Um dia da terra batida
brota uma cidade.
Então o rio murmurava
no compasso da Bandeira.

Na eira a mandioca,
força da terra provinciana.
Nas tropas as mulas, cargas insanas.
Ouro e minerais, índios como animais.

Na terra vermelha o café negro
nas palmas brancas de um escravo.
Rico branco de alma machada
c'o sangue nobre dum Rei do Congo.

Fábrica chama no alto do minarete:
Entrada. Saída, só se for morto.
A gora o branco vindo da Itália
trabalha duro naquele fosso.

“Kasato” atraca na doca escura,
olho horizontal de face perdida
não comunica nada da cultura
branca e preta zen-budista.

Na oriente a rua irmana
judeus e árabes sobre um tabule.
As lojas abrem e na calçada
tapioca doce dum camelô.

Sobe um prédio,
sobe uma cerca,
separa o rico
do desvalido.

A cidade separa, já não une,
mata, já não cria...
O rio silêncio denuncia:
“Chegou mais um ônibus no Tietê.”