domingo, 30 de março de 2008

Cigarro



Num ato os quatro elementos,
um instante tantos lamentos
e a fumaça sobe alta pro céu.

Domínio humano industrial
da terra brota a folha, cresce ao sol;
pisando os caminhos do campo
trabalho cansado de tantos.
Fábrica.

Molhar a matriz do solo
água límpida que bebe
sorvendo em goles
a preciosa vida mineral
domina a sede.

No ar voam as nuvens
que pra terra voltarão
num ciclo contínuo
voa o avião, o helicóptero.

O Fogo das tochas, isqueiros e fósforos;
vãs cabeças pirotécnicas incandescentes.
A fumaça desce da boca ao pulmão:
Um prazer indescritível!
A morte infalível!
O prazer de dominar
os quatro elementos.

domingo, 23 de março de 2008

Aos escritores contemporâneos

A poesia Contemporânea nacional toma rumos, que em minha opinião, distanciam-se cada vez mais o leitor deste gênero literário. Se prestarmos bastante atenção nas produções on-line o que se vê é um misto de "intimismo-autista-ultra-romântico-edonista-existencialista-auto-ajuda". Pode parecer exagero, mas prestem bem atenção às produções "poéticas" disponíveis na net! Ou mesmo os novos lançamentos editoriais, se é que se pode achar algum!"

Não há compromisso com a beleza, ou com uma mensagem, nem mesmo com o leitor. "Que se dane sua capacidade interpretativa o que vale mesmo é escrever e isso basta!"

Esta é, em minha opinião, a atitude da maioria dos "pseudo-poetas" ou "pseudo-literatos", todos togados achando que pra escrever é necessário seu diploma de Língüítica ou dum curso de letras. Um academicismo de nariz em pé, uma arrogância fake.

E o que eles escrevem?
Eu respondo. NADA!

Falam mal e escrevem mal de tudo e de todos, nada presta e o melhor que eles fazem é ininteligível, por que não há nenhum comprometimento com o leitor, com o outro.
Onde estão os Paulo Lemisnki de hoje? E os Glauco Mattoso.... Estão por aí sendo vilipendiados por estes cri-críticos metidos a Cult... E sinceramente, pra mim Cult é quem vai a Igreja todo Domingo!

Cada dia que passa, quanto mais leio, quanto mais converso percebo que as pessoas estão cada vez mais ocas; ou como diria um otimista: "Estão mais cheias de Ar". Este é um sintoma de nosso egoismo-autista atual, nosso mal-do-século, um vazio existencial, um vazio de significado em busca do prazer intenso, artificial e rápido. Vide o Êxtase, o BBB, as Raves.

Liberal que sou apoio a liberdade, isso está implícito, mas não posso me furtar a criticar a superficialidade, a artificialidade, a "arte fast-food" de consumo rápido e barato. Não sou saudosista; mas o que gostaria muito de ver é a criação de algo realmente simples e tocante, algo que lance mão das novas técnicas para desvelar o interior deste homem do início do século 21. Um homem Ahead, Advanced, Fashion-freak, e plugado; mas ao mesmo tempo triste, esgotado e que morre perplexo com tudo o que não pode viver.

Assim como escritores e poetas devemos ser simples, ser mais humildes, ser inspirados pela beleza do outro e deste novo mundo que nos cerca. Devemos escrever menos e melhor. As futuras gerações agradecem.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Bi-ciclo


A roda foi inventada na Mesopotâmia.
O freio depois do primeiro acidentado.
O capacete após o primeiro traumatizado.
O pedal por quem não queria mais empurar.
Um quadro, um losango, duas rodas.
Um sorriso de criança, um sonho cor de rosa.
A ladeira, um cansaço, mais de 120 vezes bate o coração.
Mais de 30 km/h voa entre a multidão.
Um barreiro, adolescente cross-country do burguês.
Luz na frente, paralama que não segura nada.
Nonada, ainda gira mundo seu diário melodrama.
Acabado a noite ama
o seu sono, seu sonhar.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Meu Disco de vinil

Liga...
gira
voa
S O M
agulha
pica
o beat
o braço
um passo
dança
mansa
de rosto
colado
no baile
toca
aquela
do João:
"Chega de saudade"

Um pequeno Ditador


tic- tac- tic- tac- tic-tac-tic-tac
trimmmmmmmmmmm
gira tic, gira tac, um segundo se passou
trimmmmmmmmmmm
Marcha, gira, gira e marcha
sobre a mesa se agacha
tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac
apressado o ponteiro
tic-tac-tic-tac-tic-tac
na batida dum fereiro
tic-tac-tic-tac
demarcando o Sr. Tempo
tic-tac
ordenando Sua Vida
tic....
que não pode ser vivida
tac...
o seu tempo
acabou
trimmmmmmmmm.

Lápis


Duro cinzento
roliço pobre
coisa do passado
vive hoje, quase, aposentado,
pela tela e o teclado.

Piadas e finura
seu traço na reta da lapiseira;
rude, pré-histórico.
Planos de liberdade e revolta,
paredes mais retas, linhas tortas,
chato e vermelho: liquidação.

Na Ásia azul foi um dia,
cara jóia, rara iguaria.
Agora rola colorido nas mãos das crianças
ou jogado num canto, não vai mais ao espaço.
A tinta venceu. Acabou-se o ato, seu fim não se diz.
O lápis repousa na mão inábil do aprendiz.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Promoção R$ 1.200,00


Liga. Não há botão. Dever ser o play...
Brilha telinha de cristal líquido
som límpido no fone branco
Ipod, quebrar não pode.
É caro e não tem manutenção.
Atenção, até 160 Gb de música!

Ando e ouço, sento e vejo...
sou dependente da máquininha supreendente.
Cara como o diabo....
-Cuidado! Olha o ladrão!
-Aí Boy, perdeu... Passa pra cá.
40.000 músicas, 200Hs de vídeo
e a vida passa. Silenciosa na janela,
animada nesta tela...
Gira pra lá e pra cá.

"Esqueçe de ti mesmo."
Olho de peixe, vidrado a esmo.
Não importa o ladrão,
nem o aperto da Lotação;
só a janela cinza, e mente entorpecida
pela bagatela de R$ 1.200,00.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Mesa

, e mais nada a volta do altar/a cerinômia se consuma/uma vida se acaba/a cabo de sacrifício/aplaca a divindade/sedenta de vida/- que pinga nas gotas salgadas-em ruas alagadas de gente faminta-a volta da ara feijão e arroz-engolidos por fome-que mata, maltrata, desata revoluções.-*Sobre o plano reto faca e garfo mordendo a carne nua*semi-crua da gente que paga*pra nascer e morrer. *\A mesa está posta\a história a suas costas\velas, mãos estendidas, um copo\mas esta fome, esta cerveja\e estes amigos são um alívio\ à nossa dor.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Volume Volúvel


Volumosa sua carne em branca histórias conta.
Intrigas, amores, rumores, aventuras, os dias.
Personagem da história do homem com tédio
para solidão certeiro remédio
para ignorância e escuridão.

Grande ou pequeno,
vazado ou veneno
na mente do leitor.
Este é o Livro em forma de bíblia
de morte e de vida.
Cedo ou tarde
Mallarmé, Balzac ou Sade.
Não interessa o que você vê
quando abre a capa um mundo se desata
Nutrindo, matando o que há em você.

segunda-feira, 3 de março de 2008

A "Net" de aranha


Um fio conecta, liga. Link é mais chic.
Deste lado da tela, tc um msg p/vc
do outro lado do teclado o sol
esgueirando-se entre as lâminas da persiana.

Um golpe no mouse, este dispositivo
disposto e ativo, nativo do Silicon Valley.

Branco abre o site
meu nome nele aparece
intimidade nele enrubesce
e popular fica, mesmo que se conturbe
a imagem no YouTube.

Não há mais conhecimento,
só lamento e apresento o mais novo aparelho
de lavagem cerebral. 70% pornografia.

Não te conheço, não me conhece.
Nunca te vi e nem quero que veja
mas podemos ter um caso
ou que tal um amasso, virtual.

Nesta "Net" de aranha....
Os olhos não se enchem de ver,
os ouvidos não se enchem de ouvir
essa mesma ladainha
que hoje já é rainha:
Oferta!... Aumente o seu Pênis!

Só há rostos sem nome,
nomes sem personalidades
e pessoalidades impostas
pelo crivo popular, essa Massa.

Bem-vindos à cultura sob medida:
Tudo feito, tudo perfeito
Pra você e Por Você.

Uma caixa MÁgica

"Eu te possuo.
Desligue isso!"



Tela de vidro, permitida intromissão
missa ao domingo, Marcelo, Faustão.
Janela de cores polegadas uns mil.
Retrato falado, escarrado Brasil.

Abre a janela da mente
e veja na tela amarela a febre vencer.
Um time que joga, reverendo que roga,
- O premiado, é Você!!

Riqueza e miséria e aquela mui séria
sereia seria receita, cozido dendê?

Lá no Himalaia e Casaquistão
postados na frente meninos estão
Parados, pétreos, boquiabertos seus dedos
frenéticos direita, esquerda, X,Y,Z.

Notícia: fica de olho, mas nada de novo:
Um avião caiu, mais uma ação subiu.
Mais uma bomba feriu o seu coração.

Caixa dos trouxas. Liga tomada,
desliga da vida, sara ferida...
- Quieto! A Novela vai começar!